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Um dos maiores desafios da humanidade, ligado diretamente à nossa sobrevivência, está relacionado à gestão e renovação de recursos naturais. E apesar de 3/4 do nosso planeta ser constituído por água, menos de 3% dela é doce, nos restando mais de 97% de água salgada. Sim, é água pra caramba, mas, e daí? De que adianta ter tanta água se o sal nos impede de usá-la?

A resposta para esta pergunta surgiu de uma necessidade. Há alguns anos, Israel passou pela pior seca dos últimos 900 anos. E, muito parecido com o que tem acontecido em alguns estados brasileiros nos últimos anos, o governo realizou uma série de campanhas pedindo que as pessoas economizassem e reutilizassem a água, mas a ação que teve maior impacto foi a criação de novas usinas de dessalinização.

Ao sul de Tel Aviv, por exemplo, está localizada a usina de Sorek. Com capacidade para dessalinizar água o suficiente para abastecer 1.5 milhão de pessoas, essa é a maior instalação de dessalinização do mundo.

Tradicionalmente, o processo consiste em empurrar a água salgada para membranas contendo poros microscópicos. A água atravessa as membranas, enquanto as moléculas maiores de sal são deixadas para trás. O problema é que os microorganismos na água do mar colonizam rapidamente as membranas e bloqueiam os poros, e para controlá-los é necessário realizar uma limpeza periódica cara, além do uso intensivo de produtos químicos.

A novidade desenvolvida por pesquisadores do Zuckerberg Institute for Water Research, entretanto, é um sistema livre do uso de químicos, que usa pedra de lava porosa para capturar os microorganismos antes que eles atinjam as membranas. Essa avanço tornou o processo de dessalinização muito mais eficiente e ajudou Israel a atingir o patamar de 55% dos lares serem abastecidos por água de dessalinização.

Em resumo: um dos países mais secos do mundo hoje é um improvável gigante de água.

Foi por conta da necessidade que Israel teve de aprender a espremer toda e qualquer gota de água possível, e muito disso tem sido feito no Zuckerberg Institute. Lá, estão sendo desenvolvidas técnicas inovadoras de irrigação, tratamento de água e dessalinização que ajudam não só israelenses, mas também africanos.

Aliás, o problema da falta de água potável tem afetado muitos países, a maioria deles concentrada no continente africano e no Oriente Médio. Uma preocupação em escala mundial, menos para Israel. O país tem conseguido reutilizar 86% de sua água, que usa um sistema de tratamento que destina a água recapturada para irrigação. Para se ter uma ideia, na Espanha esse índice de reciclagem chega a 19%.

 A reutilização da água aliada à dessalinização resolveu o problema de falta de água de Israel, mas criou uma nova questão: o que fazer com a água que passou a sobrar?

Uma alternativa é usar a água como uma ferramenta diplomática, oferecendo-a a palestinos. Atualmente, Israel fornece água à Cisjordânia, conforme solicitação de um acordo firmado em Oslo em 1995, mas os palestinos ainda recebem menos do que precisam. A água foi inserida com outras negociações malfadadas do processo de paz, mas agora que ela é abundante, muitos enxergam a possibilidade de despolitizá-la. A equipe do Zuckerberg Institute tem grandes planos para isso, com a união de cientistas da água do Egito, Turquia, Jordânia, Israel, Cisjordânia e Gaza na conferência Water Knows No Boundaries, em 2018.