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Opa, tem certeza de que leu certo? Ou melhor, será que a gente tem certeza do que escrevemos no título aí em cima?

Se a sua primeira reação foi algo como “mas quem disse que humanos não podem comer carne crua?”, então você já está no caminho certo. Mas vamos por partes.

Segundo Graham Templeton, escritor especializado em ciências, vamos começar com os animais carnívoros. Será que eles conseguem comer carne sem ter nenhum problema de saúde em decorrência deste tipo de alimentação? A resposta é não, já que muitos deles acabam contraindo doenças e parasitas. Isso explica por que animais carnívoros são mais difíceis de se criar para o consumo humano: sua carne pode ser contaminada facilmente por meio da comida.

Tá, e como fica o meu sashimi, meu carpaccio ou aquele indispensável quibe cru, só para citar alguns exemplos?

Essa pequena lista aí em cima é o suficiente para responder que sim, é claro que nós não só podemos como também comemos carne crua. O detalhe é que, assim como a carne crua pode ser perigosa para um leão, ela pode ser para nós. No caso dos humanos, a coisa é um pouco pior, já que a gente costuma comer a carne resfriada e armazenada por um certo tempo, enquanto o leão mata e come na hora, garantindo o frescor do alimento.

Então, a questão mais correta seria: por que os animais carnívoros são muito melhores do que a gente em comer carne?

Templeton nos leva diretamente à evolução. Um abutre, por exemplo, se alimenta exclusivamente de carne podre (ou quase). Daí seu organismo está preparado para esterilizar qualquer material perigoso, com um belo banho de ácido estomacal. O mesmo acontece em menor grau com a maioria dos carnívoros que, como os humanos, não descobriram as maravilhas do fogo e dos alimentos cozidos. É claro que essa conta não é perfeita, já que para muitos animais essa condição biológica do organismo só minimiza o estrago.

Do ponto de vista evolutivo, aprendemos que cozinhar a carne é mais seguro do que não cozinhá-la, e foi o que aconteceu ao longo dos anos. Mas, então, como a gente ainda consegue comer de boa o sashimi, o carpaccio e o quibe cru?

É fato que nossos ancestrais distantes comiam a carne crua. Então, qual seria a vantagem evolutiva de se tirar essa habilidade do ser humano?

Para esta pergunta há muitas teorias, mas nenhuma resposta definitiva. A mais comum está relacionada à eficiência digestiva: a carne cozida pode ter menos energia e ser menos nutritiva do que a carne crua, mas isso é compensado pelo fácil acesso aos nutrientes. O processo de cozimento ajuda a quebrar as duras cadeias de proteína, e já em seus primeiros passos nossa evolução priorizou a digestão rápida em vez das calorias por porção.

Há, inclusive, estudos que sugerem que alimentos crus – inclusive a carne – seriam incapazes de fornecer as calorias necessárias para criar nossos grandes e complexos cérebros.

Ao formatar o sistema digestivo humano para comer carne cozida, a evolução apostou que seria muito menos letal requerer o acesso ao fogo do que passar 24 horas tentando digerir um javali cru. Isso foi feito desenvolvendo uma forte sensação de repulsa em resposta às substâncias químicas emitidas pela carne crua, ao mesmo tempo em que nos dava uma afinidade enorme com o cheiro de proteína cozida (sabe aquele cheirinho incrivelmente delicioso do churrasco? é isso).

Se por um lado a segurança alimentar evoluiu muito, possibilitando que a gente coma uma carninha crua vez ou outra, a recomendação é que isso não seja feito com frequência. Ah, e todo cuidado é pouco