COMPARTILHAR

Nascida na Áustria em 1914, Hedy Lamarr foi uma diva dos anos de ouro de Hollywood que, apesar de nunca ter ganhado uma estatueta do Oscar, merece ser conhecida e reconhecida por todos nós. O motivo, entretanto, passa longe da telona do cinema ou ainda do fato de sua beleza ter servido de inspiração para Walt Disney durante a criação do desenho Branca de Neve, em 1937.

Antes de mais nada, responda rápido: você consegue imaginar sua vida sem seu smartphone? Wi-fi é vida? E o Bluetooth? Pois agradeça a Hedy Lamarr.

Lembrada mais por sua beleza do que por seu talento – Hedy chegou a ser considerada a mulher mais bonita do mundo -, a atriz dividiu a tela com grandes astros da época, entre eles Clark Gable, Spencer Tracy e Jimmy Stewart.

O que passou batido para muita gente na época foi que, longe dos holofotes, ela era uma grande inventora, a mente por trás de um sistema de comunicações secreto capaz de guiar um torpedo usando a tecnologia do espectro de difusão em frequência variável, tornando praticamente impossível a interceptação do sinal.

É, a gente sabe que isso parece até um roteiro de Hollywood: de dia, estrela de cinema, de noite, cientista, mas a real é que ela nem curtia tanto assim o trabalho como atriz. O que ela realmente gostava de fazer era se sentar em sua casa, onde tinha uma biblioteca recheada de livros de engenharia e uma mesa com tudo o que ela precisava para criar.

Nascida Hedwig Kiesler, Hedy Lamarr era judia e conhecia bem os horrores do nazismo. Casada com um fabricante de armas chamado Fritz Mendl, ela passou muitas noites absorvendo o conhecimento do marido sobre sistemas de armas altamente secretos.

Conforme a realidade da guerra ia se tornando mais próxima, ela decidiu sair da Áustria, e comprou uma passagem para os Estados Unidos. A bordo do Normandie, ela conheceu Louis B. Mayer, produtor de cinema responsável pelo último M da MGM.

Hedy já era conhecida na indústria cinematográfica europeia – e também do próprio Mayer – que a contratou por US$ 600 por semana (que hoje seria algo em torno de US$ 3 mil), com a condição de que ela aprendesse a falar inglês – o que ela tratou de fazer rapidamente. Enquanto sua carreira em Hollywood decolava, a guerra seguia na Europa, sem sair de sua cabeça.

As coisas começaram a mudar quando ela conheceu um compositor chamado George Anthiel que, como ela, era um inventor que costumava despejar sua criatividade em sinfonias bastante avançadas para a época, que usavam instrumentos nada convencionais ou ainda 12 pianos tocando de forma sincronizada.

Durante a conversa, eles tiveram uma ideia: se pianos poderiam ser sincronizados para pular de uma nota para outra, por que não sinais de rádio – guiando um torpedo – também não?

A ideia de Hedy era que se fosse possível fazer com que o transmissor e o receptor simultaneamente mudassem de frequência, então alguém tentando receptar o sinal não conseguiria detectá-lo.

Enquanto cientistas consideraram a ideia viável, a Marinha americana não botou muita fé, dizendo que a dupla deveria tentar arrecadar fundos para a guerra em vez de ficar inventando besteiras. Foi o que Hedy fez, usando sua fama para arrecadar milhões de dólares.

Em 1941, Hedy e Anthiel receberam a patente do sistema criado por eles, mas a importância desta invenção só foi percebida décadas depois, sendo primeiramente implementada em navios durante a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, para depois ser aplicada em outros sistemas militares.

O mais importante, entretanto, é que a invenção de Hedy Lamarr e George Antiel ajudou a estimular o boom da comunicação digital, formando a espinha dorsal técnica que tornou possível o funcionamento de telefones celulares, GPS, wi-fi e Bluetooth.

Apesar disso tudo, Hedy nunca recebeu crédito por sua ideia, e nem lucrou com isso. Após 50 anos, ela foi indicada para alguns prêmios, mas nunca apareceu para recebê-los.

Ainda assim, desde 2005 celebra-se na Alemanha o Dia do Inventor em 9 de novembro, data de nascimento de Hedy Lamarr.