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Há alguns anos, temos acompanhado a carreira do filmmaker Keiichi Matsuda, que está lançando seu projeto mais recente, o curta Hyper-Reality. O filme faz uma visão provocativa e caleidoscópica do futuro, onde as realidades analógica e virtual se confundem em uma cidade saturada em informação.

A temática não é recente na obra do artista, que tem em seu currículo títulos como Domestic Robocop e Augmented City 3D, para citar alguns exemplos.

Há alguns anos, nós batemos um papo com Keiichi Matsuda e, apesar de já ter passado algum tempo, ela continua extremamente atual, especialmente para lida com o processo criativo, desafios e limitações. E o mais bacana: ele lembra que cientistas também precisam ser criativos. Saca só:

Na sua opinião, o que torna uma pessoa criativa?

Confiança é fundamental… você não pode ser criativo se seguir as regras, porque senão suas ideias se tornam viciadas. Você tem de dar a si mesmo a licença de explorar o território desconhecido, e saber que é uma busca que vale a pena. Isso algumas vezes é chamado de “acreditar”, mas a propaganda arruinou esta palavra para mim… Sensibilidade e entendimento do contexto são coisas que farão de você um sucesso, mas talvez a coisa mais importante é a capacidade de ver além do óbvio. Trabalho duro por si só não é necessariamente algo criativo, mas você não pode ser criativo sem criar algo. Esta definição, provavelmente, coloca os cientistas no topo da árvore criativa. Definitivamente é preciso confiança, entendimento e capacidade para, digamos, teorizar e aproveitar a eletricidade, ou nos convencer de que nós não estamos fazendo esta entrevista, mas em vez disso estamos presenciando apenas os ecos holográficos de gigantes cordas vibratórias no espaço. Eu gostaria de ser um cientista, é um trabalho incrível.

Você tem algum tipo de rotina para ajudá-lo com seu trabalho?

Eu não tenho NENHUMA rotina. É terrível, para falar a verdade. Quando eu realmente estou mergulhado em um projeto, eu não tenho nem mesmo dias de 24 horas… Eu apenas sigo em frente até eu realmente precisar dormir, então eu vivo em ciclos de 35 horas ou algo do tipo. Eu acredito que quebrei o meu relógio biológico. Ótimo para o jet lag, mas péssimo para a saúde, relacionamentos, reuniões… OK, eu vou tentar criar uma rotina.

Onde você busca novas ideias?

Ter novas ideias nunca foi um problema para mim, eu sempre tive muitas. Talvez porque o vídeo seja um processo muito lento, então eu tenho muito tempo para pensar enquanto estou trabalhando. Eu acho que é bom você sair do seu ambiente normal e do campo em que você normalmente é especialista. Meu sketchbook tende a se encher mais rápido quando eu estou viajando ou conversando com pessoas que não têm ideia do que eu faço.

Você trabalha com algumas limitações na hora de desenvolver seus projetos. Como você lida com isso? Em algum momento isso se torna frustrante?

É claro que há ocasiões em que eu gostaria de ter mais dinheiro, equipamento ou tempo, mas no geral, eu acredito que as limitações são algo muito positivo. Elas colocam você em um estado criativo desde o primeiro dia, e ajudam você a tomar decisões. O projeto mais difícil é aquele sem nenhuma exigência. Eu imagino que, conforme você amadurece e se estabece, você começa a criar limitações por você mesmo (em termos de ter um “estilo”, por exemplo), o que pode tanto ser bom quanto ruim.

Você tem alguma história de erros que deram certo, quando algo fantástico surgiu de forma inesperada?

Eu acho que a maior parte das histórias sobre os meus erros que deram certo têm como cenário eu, em frente ao meu computador, percebendo algo diferente em um plug-in e ficando todo animado por isso. Então, provavelmente não é nada muito divertido de se ler…

Qual é a coisa mais desafiadora para você no momento, criativamente falando?

Eu não tenho trabalhado por conta própria por muito tempo, então meu maior desafio no momento é, provavelmente, como operar no mundo real. Estou percebendo que não posso passar meses considerando uma ideia e aprendendo novas técnicas antes de construir um projeto, e ainda esperar fazer dinheiro com isso. Tudo é muito mais rápido e mais caro do que eu pensei que seria, então eu preciso de um pouco de ajuda. Criativamente, eu acredito que o maior desafio é ter certeza de que o conceito inicial sobreviva ao processo de produção. Isso é muito mais fácil em vídeo do que em arquitetura, mas ainda é possível esquecer o que te encantou primeiro em sua ideia, especialmente quando novas ideias incríveis surgem o tempo inteiro.

Algum conselho para os designers brasileiros?

ACREDITE!

Texto publicado originalmente no Royaltalks