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Doença de Parkinson, Alzheimer, Esclerose Lateral Amiotrófica, Aids e câncer. Você sabe o que estas doenças têm em comum? Elas ainda não têm cura. Apesar de os pesquisadores já terem feito muitos avanços, contribuindo com o desenvolvimento de tratamentos capazes de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, ainda há um longo caminho pela frente.

E apesar de todas as doenças que citamos no início deste texto serem graves, o câncer parece ser aquela que mais assusta, como se fosse uma espécie de Voldemort, “aquele-que-não-deve-ser-nomeado” ou aquela doença “cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado”. É como se a mera menção à doença fosse o suficiente para contraí-la.

Mas afinal, o que torna o câncer tão diferente de outras doenças?

A grosso modo, tudo começa com uma questão de semântica. Quando se fala em HIV, poliomielite ou até mesmo caxumba, é possível se ter ideia de que está se falando sobre um espectro de organismos relativamente limitado. E apesar de pequenas variações, você sabe que uma pessoa que tem poliomielite, tem poliomielite, e isso implicará em um tipo de tratamento mais uniforme.

No caso do câncer, entretanto, não temos apenas uma doença, mas um tipo de doença. Isso significa que em termos de tratamento e efeitos, um tumor no cérebro tem pouca coisa em comum com um tumor no pulmão ou na pele. E apesar de todos estes tipos de câncer compartilharem um mesmo problema inicial – células que fazem com que o tumor cresça infinitamente e sem restrição -, a partir daí, são doenças completamente diferentes.

É por isso que pensar em uma “cura para o câncer” não faz sentido algum, já que não existe uma única cura para o câncer, da mesma maneira que não existe um único tipo ou uma única causa para o câncer. Até mesmo o controle total sobre a reprodução de cada célula não seria o suficiente, uma vez que as drogas que poderiam exercer tal controle ainda precisariam alcançar o tumor, entrar nas células e começar a agir.

No caso do câncer de fígado, há problemas únicos relacionados ao fato de o órgão também filtrar o sangue, enquanto que a leucemia – um câncer do sangue – também tem seus próprios desafios. Para se ter ideia, até mesmo dois tumores cerebrais podem ser causados por mutações completamente diferentes, em genes totalmente diferentes.

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Outra coisa que é preciso lembrar é que apesar dos tipos de tumores geralmente terem origem em defeitos genéticos similares, cada paciente com câncer é o criador de sua própria doença e qualquer pequena diferença de um para outro pode ter enormes implicações no tratamento.

A replicação desenfreada de células cancerosas é, sem dúvidas, o estado natural de toda vida – esta situação em que células saudáveis da pele crescem até certo ponto e depois param voluntariamente é um acordo frágil que permite que organismos complexos sobrevivam, mas que também funciona contra os objetivos a curto-prazo de cada célula individual.

Em uma pessoa saudável, cada tipo de célula concorda em reter o crescimento a curto prazo para que a comunidade possa sobreviver a longo prazo. O câncer ocorre quando as células quebram esse “contrato” e qualquer coisa que cause mutação no DNA – de radiação a metais pesados – pode lhes dar essa oportunidade.

É por isso que análise genômica e o sequenciamento rápido e simples do DNA são tão importantes para a pesquisa do câncer: uma vez que todo tumor é diferente, então é vital que seja possível identificar cada tipo individualmente. Um catálogo completo de mutações causadoras do câncer (que além de ser gigantesca, também estaria em expansão constante) permitiria aos médicos fazer um tratamento sob medida para cada circunstância da doença.

Muito longo, não li: o resumo dessa história toda é que, na prática, todo indivíduo precisa de sua própria “cura para o câncer” sob medida, já que todo mundo tem (ou poderia ter) seu próprio tipo único da doença.